segunda-feira, 6 de setembro de 2010

BOTECOFAGIA !

... se apropriar dos boteco como forma de libertação !

... A COMIDA COMO PATRIMÔNIO CULTURAL E IMATERIAL DA HUMANIDADE


 
Alimentar-se é um ato nutricional, comer é um ato social, pois se constitui de atitudes ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações. Nenhum alimento que entra em nossas bocas é neutro. A historicidade da sensibilidade gastronômica explica e é explicada pelas manifestacoes culturais e sociais, como espelho de uma época e que marcaram uma época.Nesse sentido, o que se come é tão importante quanto quando se come, onde se come, como se come e com quem se come. Enfim, este é o lugar da alimentação na história.

Sendo a cozinha um microcosmo da sociedade uma fonte inesgotável de história, é importante que alguma das suas produções sejam consideradas como patrimônio gustativo da sociedade. Por tudo o que venham a representar do ponto de vista da originalidade e da criatividade, que permitem destacar as identidades locais e regionais podem ser considerados bens culturais, patrimônio imaterial. Desta forma, constata-se que a culinária brasileira demonstra agora sua vitalidade, pois diz muito sobre a educação, a civilidade e a cultura dos indivíduos. Revelando conotações simbólicas, sociais, políticas e culturais que se integram num elaborado sistema de representação.


Comer é patrimônio que valoriza e aponta para sistema alimentares, ingredientes, tecnologias culinárias, receitas, pratos, comidas e rituais de oferecer e de comer enquanto manifestações notáveis e fundamentais no reconhecimento cultural dos povos, das regiões, dos indivíduos. A questão da alimentação situa-se no coração das nossas preocupações, como gênero de fronteira, um definidor da nacionalidade, como uma integração federativa de caráter transdisciplinar, de onde emergem os marcos que permitem fazer, através da comida, uma reflexão sobre o próprio significado e evolução da sociedade brasileira.

Pode-se mostrar a comida enquanto realização pessoal, coletiva, de um momento econômico, no cumprimento de promessa religiosa, de técnica agrícola, de coleta artesanal, transmitida na geração física entre trabalho ritualizado e a quantificação estatística da peça da carne, da soja e do milho... até da manga madura para ser comida egoisticamente, como deve ser , como um néctar que começa na boca, lambuza a cara, a mão e se for deliciosa todo o corpo.

(texto do antropólogo RAUL LODY – temas da antropologia da alimentação – editora SENAC)


Bar Esperança o último que fecha !

a boemia pede paz !

Tia Ciata - quitutes, perseguição e a resistência para vingar o samba - Ora ie ie o

TIA CIATA


Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata (Salvador 1854 - Rio de Janeiro 1924) foi uma cozinheira e mãe de santo brasileira. Foi iniciada no candomblé em Salvador por Bangboshê Obitikô, era filha de Oxum. No Rio de Janeiro era Iyakekerê na casa de João Alabá. Também ficou marcada como uma das principais animadoras da cultura negra nas nascentes favelas cariocas. Ela era a dona de uma casa onde se reuniam sambistas e onde foi criado "Pelo Telefone", o primeiro samba gravado em disco, assinado por Donga e Mauro de Almeida.

Biografia

Tia Ciata nasceu em Salvador em 1854 e aos 22 anos veio para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor. Foi a mais famosa das tias baianas (na maioria iyalorixás do Candomblé que deixaram Salvador por causa das perseguições policiais) do início do século, que eram negras baianas vindas para o Rio de Janeiro especialmente na última década do século 19 e na primeira do século 20 para morar na região da Cidade Nova, do Catumbi, Gamboa, Santo Cristo e arredores. Logo na chegada ao Rio de Janeiro, conheceu Noberto da Rocha Guimarães, envolvendo -se com ele, então, e acabou ficando grávida de sua primeira filha lhe dando o nome de Isabel. O caso dos dois não foi adiante. Ela acabou se separando de Noberto e, para sustentar a filha, começou a trabalhar como quituteira na Rua Sete de Setembro, sempre paramentada com suas vestes de baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas, ou seja, a sua fé no candomblé. Religião proibida e perseguida naqueles tempos. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada e bem engomada, turbante e diversos colares (guias ou fio-de-contas) e pulseiras sempre na cor do orixá que iria homenagear. O tabuleiro era famoso e farto, repleto de bolos e manjares que faziam a alegria dos transeuntes de todas as classes sociais.
Mais tarde, Tia Ciata casou-se com João Baptista da Silva, que para aquela época era um negro bem sucedido na vida. Deste casamento resultaram 14 filhos, uma relação fundamental para a sua afirmação na Pequena África, como era conhecida a área da Praça Onze nesta época. Recebia todos os finais de semana em sua casa, nos pagodes, que eram festas dançantes, regadas a música da melhor qualidade e claro seus quitutes. Partideira reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das festas, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse.
Foi em sua casa que se reuniram os maiores compositores e malandros, como Donga, Sinhô e João da Baiana, para saraus. A hospitalidade dessas baianas fornecia a base para que os compositores pudessem desenvolver o samba. A casa da Tia Ciata na Praça Onze era tradicional ponto de encontro de personagens do samba carioca, tanto que nos primeiros anos de desfile das escolas de samba, era "obrigatório" passar diante de sua casa.
Normalmente, a polícia perseguia estes encontros, mas Tia Ciata era famosa por seu lado curandeiro e foi justamente um investigador e chofer de polícia, conhecido como Bispo que proporcionou a ela uma interessante história envolvendo o presidente da República, Wenceslau Brás. O presidente estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não conseguiam curar e este investigador então disse ao então Presidente que Tia Ciata poderia curá-lo. Feito isto, foi falar com ela, dizendo:
- "Ele é um homem, um senhor do bem. Ele é o criador desse negócio da Lei de um dia não trabalha..."
E ela respondeu:

- "Quem precisa de caridade que venha cá."

Ela então incorporou um Orixá que disse aos presentes haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse uma pasta feita de ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos. O Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer pedido. Tia Ciata respondeu que não precisava de nada, mas que seu marido sim, pedindo para o Presidente um trabalho no serviço público, "pois minha família é numerosa", explicou ela.
Além dos doces, Tia Ciata alugava as roupas de baiana para os teatros para que fossem usados como figurinos de peça e para o Carnaval dos clubes. Nesta época, mesmo os homens, se vestiam com as suas fantasias, se divertindo nos blocos de rua. Com este comércio, muita gente da Zona Sul da cidade, da alta sociedade, ia à casa da baiana e passando assim a freqüentar as suas festas. Era nessas festas que Tia Ciata passou a dar consultas com seus orixás. Sua casa é uma referência na história do samba, do candomblé e da cidade.
Em 1910, morre seu marido João Baptista da Silva, mas ela já havia conquistado o seu lugar de estrela no universo do samba carioca. Era respeitada na cidade, coisa de cidadão, muito longe da realidade comum dos negros de sua época. Todo o ano, durante o Carnaval, armava uma barraca na Praça Onze, reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem.
Na barraca eram lançadas as músicas, as conhecidas marchinhas, que ficariam famosas no Carnaval do Rio de Janeiro. Tia Ciata morreu em 1924, mas até hoje é parte fundamental da memória do samba. Curiosamente, existem pouquíssimas imagens de Tia Ciata


Leia materia completa: Tia Ciata | Portal Geledés

domingo, 5 de setembro de 2010

Interdição !??? CAUSA lei do silêncio, da lei seca e lei cega. CAUSO: da responsabilidade de toda a sociedade em lidar com cultura...

Esse blog surgiu motivado pela interdição do nosso bar, que funcionava há 4 anos, na capital do país. No centrão. Do maior país da América Latina. Milhões de habitantes. Quando abrimos o bar, ativamos um cineclube no subsolo. Assim, começamos a movimentar um espaço de encontro e de acesso livre à cultura.

Possibilitamos que diversas pessoas e grupos se apropriassem do Cine, paralelo a nosso principal ramo que é o comércio de bebidas e comidas . Gerido coletivamente por quem o mantinha ativo, era atividade de ressignificação de um pretenso espaço ocioso, para exibição livre seguida de debates de filmes que estão fora de circuito comercial.

Criamos mais um espaço para somar ao poderoso espaço informal de encontro (e formulação de pensamento e troca de experiências): A MESA DE BAR !Sem mediações implícitas dos governos, igrejas, medias - a nossa mesa de bar é liberta de publicidade, promoção e ou patrocínio cultural.

Noite – após - noite pessoas se reconheceram como sujeitos culturais. Tornamos viva experiências individuais e coletivas de cidadania da cultura. Utilizamos para isso referenciais, mitos e memória afetiva próprios. Num restaurante com cineclube, música, debates, exposições. Onde quem discoteca é também quem faz o drink e come o bobó. Conquistamos realmente este espaço, com muita luta e criatividade.

Nosso produto – comida e bebida - permite apoiar as artes e culturas. Assim, passamos a alimentar as principais companhias locais de teatro, as equipes de cinema, os festivais de música, bandas, a moçada do esporte, das artes visuais. E as pessoas que apoiamos, retornam à casa em outros contextos. Assim criamos uma estratégia de gestão, que se retroalimenta e torna nosso modelo economicamente sustentável. Nos possibilitando fomentar a rede de cultura local.

LEI DO SILENCIO

Em julho de 2010 estávamos a toda velocidade, com muitas iniciativas distintas, projetos musicais, encontros nas ruas, alegria e diversão escoando pelo centro de Brasília. Até que nos interditaram , sem nem sequer nos dar direito à notificação ou defesa que o valha. Por conta de muitas pessoas estarem nas ruas.

Justamente as muitas pessoas ligadas a movimentos sociais e culturais de Brasília. No processo que leva a Administradora de Brasília a revogar nossa licença de funcionamento, existem apenas duas reclamações contra o bar. Das quais não tem nenhum laudo comprovando se legitmas, ou não. Ressaltamos que estamos numa quadra comercial. Ou seja, não estamos em zona residencial. Mas, mesmo assim, temos sido perseguidos sem sabermos qual a qualidade do barulho que fazemos.

Será o barulho das muitas iniciativas que fomentamos sem a benção das autoridades ? Será o barulho de termos realizado um modelo de negócio sem necessariamente termos “contatos” com o governo ? Ou o barulho da cultura, das existências múltiplas que não se burocratizam ? A quem interessa o silêncio ?

LEI SECA

Em linhas gerais é uma denominação popular da proibição oficial de fabricação, varejo, transporte, importação ou exportação de bebidas alcóolicas. Já motivou várias revoluções. Atualmente, agride fortemente a periferia sem espaços de lazer que o valha... em nome de controle da violência. Nossos governantes restringem o horário de permissão de funcionamento da mesa de bar. Consideram a mesa de bar fomentadora da violência urbana. Preferem criminalizar a mesa de bar, a investir em educação, lazer e cultura. E assim seguimos em seca...


LEI CEGA

Aqui queremos  compartilhar um incômodo. Aqui queremos falar da língua do povo. Essa que motiva nossa atividade. Essa que faz com que nossos pratos e copos tenham sentido. Mais ainda, essa que muda realidades. A língua do povo é muito poderosa. E durante esse período podemos perceber que a mesa de bar ainda não é vista como um poderoso espaço cultural. Chamamos isso de lei cega.

... e ficam as perguntas para a lei cega (ou o acender das velas):

1 – A quem interessa desconsiderar a mesa de bar como um espaço sócio-cultural poderoso ?

2 - Por ser a mesa de bar um espaço informal e autônomo, (no qual as pessoas presentes constroem LIVREMENTE o pensar e existir), por que justamente este é o setor da economia onde predomina controle, discriminação e intolerância? E é associado a ele violência, abusos e outras mazelas ?

3- Que tempo é esse que vivemos no qual os bares e restaurantes não são vistos pela sociedade como espaços culturais e portanto, potencialmente inseridos na economia da cultura. Até quando, vamos ter que esperar políticas públicas neste sentido ?

4 – Quando vamos ter dispositivos claros que lidem com nosso setor, ao invés de persegui-lo e criminalizá-lo ?

5- Até quando neste país empreender será sinônimo de ter contatos no governo local ?